Admiração é por si só é tão esplêndido quanto estranho. O sujeito de súbito encontra-se em estado de graça ao que chamamos de encantamento em relação ao recentemente e superiormente conhecimento dantes velado à sua pessoa. Digo isto por não me deparar a admirar algo que julgo inferior ou marginalizado do meu contexto.
É em reflexão a estas grandezas do homem que me ponho a falar de uma admiração em especial por um homem que nunca vi (carnalmente falando), aliás, diga-se de passagem, que grande homem. O denomino assim não por possuir apenas virtudes (as que tanto me agradam), mas, pelas mesmas se sobressaírem e por terem se perpetuado até a data que vos lhe escrevo esta anedota.
Temáticas interessantes passam por minha mente como vento, sem possibilidade de agarrá-las e desmembrá-las para que então eu desmembre minhas ideias e consequentemente minha vida (ou pelo menos um pouco). Enquanto passo por inquietudes e crises de ansiedade, tantas e quantas vezes recorreram a minha mente este pequeno e profundo verso; "Não precisa correr tanto, o que é seu às mãos lhe há de vir". - Dom Casmurro - Machado de Assis. Verso este extraído de um clássico inexplicável que percorre os séculos. Um coração aflito que não comporta seus extremos; Uma mulher, quer dizer, “A mulher”, que convenhamos, dispensa comentários e qualquer entendimento, e por fim; uma dúvida, o motriz da narrativa, assim como as dúvidas se apresentam em nossas vidas. Entre dúvidas e aflições, um amor. Não quero relembrar-lhe a história (como não sabê-la?), mas sim aquele que a escreve.
O que este desperta em mim é aquilo que pouquíssimos conseguem; encantar-me; chorar sem tristeza; entristecer-me com as mazelas humanas; e por fim, sua habilidade. Falar de amor, nem sempre é bom, mas é automático, é álibe. Tocar na podridão da sociedade de sua época (o que ele escreveria hoje?), tão lindamente, tão eminente, tão duramente, tão francamente... Entre tantos “mentes”, ele o fez. Nesse contexto, epilético era sua necessidade de falar, de sacudir a sociedade com sua fina ironia. Quem era este, que após dois anos de viúves ainda punha o prato da mulher amada (Carolina) à mesa? Como esperava fim e a sua dama? Como era flama sua jornada, isto, mesmo antes de começá-la.
Tantas mentes descobrimos, quantos amores ouvimos, quantas teses tentaram desvendar, onde a graça é o seu segredo perpetuar. Afinal, de quem estou falando? De Casmurro ou de Assis? Quiçá ambos, se confundem não em tudo, mas na gana de viver mesmo com a morte (subjetiva e objetiva) diariamente à sua porta bater. Não quero desvendá-lo, ou, amordaçá-lo com minha curiosidade vã; quero tão somente para sempre admirá-lo.
Jane Bem