domingo, 11 de dezembro de 2011

Pra toda minha vida

Pai! Colocas meus pés descalços no chão seco, duro e rachado de dor,
Para que meus sonhos façam sentido, e que as graças plantem raízes dentro de mim.
Pai! Faz-me nobre, para que sejam exorcizadas as arrogâncias e discrepâncias entre mim e o meu viver.
Pai! Lava-me com tua humildade para que se apazigúe a soberba que possuo e as que ainda estão por vir.
Ensina-me a amar,
Dispa o que sou,
Mostra-me o que tenho a dar,
E sabedoria para com os quem tenho de zelar.

Tolices!

Olho de um lado para o outro, e não vejo nada que me interessa.
12h da tarde, casa miúda, calor escaldante de dezembro e o ócio.
Ânsia para chegada da noite aonde vem à brisa, o abraço, e, porque não o fim da agonia.
Há uma perturbação constante deste futuro desejável que é sufocado por este presente “infernal”, que queria outro.
Eu quero outro...
Presente,
Mente...
eu quero outra paciência.
Para sanar as lamentações.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

É assim...

Cantei de alegria quando minha cara feia se desfez.
Julgo-me perdedora antes da tentativa quando estou insana.
Choro porque me alivia.
Choro pela beleza, pela perda e pelas superações;
Choro só pelo prazer de sentir.
Sinto por existir.

Humildade

"Senhor, fazei com que eu aceite
minha pobreza tal como sempre foi.

Que não sinta o que não tenho.
Não lamente o que podia ter
e se perdeu por caminhos errados
e nunca mais voltou.

Dai, Senhor, que minha humildade
seja como a chuva desejada
caindo mansa,
longa noite escura
numa terra sedenta
e num telhado velho.

Que eu possa agradecer a Vós,
minha cama estreita,
minhas coisinhas pobres,
minha casa de chão,
pedras e tábuas remontadas.
E ter sempre um feixe de lenha
debaixo do meu fogão de taipa,
e acender, eu mesma,
o fogo alegre da minha casa
na manhã de um novo dia que começa.”

Cora Coralina

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Soneto Precioso

A pedra que transparece o rio caudaloso,

brilha na pureza de um gozo escandaloso.

Arremata os olhos de fêmeas vis,

assim como os apaixonados, quando o destino quis.


As delicadezas inquebrantáveis,

quebra a rudeza maleável;

quando selados, pelos votos estáveis,

e de sonho sonhável.


Toma-te nua, crua e sua,

torna-te fase, negra, alva, fragmentada,

confusa como lua.


E quando os corpos não mais se distinguirem,

Quando duas almas não mais existirem,

Simboliza com este anel, esse ímpeto de céu.

Soneto das Definições

Não falarei de coisas, mas de inventos
e de pacientes buscas no esquisito.
Em breve, chegarei à cor do grito,
à música das cores e do vento.

Multiplicar-me-ei em mil cinzentos
(desta maneira, lúcido, me evito)
e a estes pés cansados de granito
saberei transformar em cataventos.

Daí, o meu desprezo a jogos claros
e nunca comparados ou medidos
como estes meus, ilógicos, mas raros.

Daí também, a enorme divergência
entre os dias e os jogos, divertidos
e feitos de beleza e improcedência


Carlos Pena Filho

Do contra

Eu tenho um olhar murmurinhento;

Mexe com minha cabeça, por fora e por dentro.

Tudo é indefinido. Eu sou indefinida;

Sou finda, louca, linda, doida e desmedida... Hã!?

Eu sou cacofônica...

Quanta confusão!

Tudo isso, porque vou de contra ao vento.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

"Ao fim e ao cabo, só há verdades velhas caiadas de novo."





Machado de Assis, o Bruxo.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Sem eixo

Nossas histórias contêm despedidas, chegadas e partidas;

E em cada pedacinho, um por que, um causo e um “tinha de ser”.

Em nossas paredes são abertas janelas, portas, vielas, remendos, puxadinhos e portões; Tudo é uma questão de oportunidade e sabedoria. Fato é que para cada abertura há sempre uma descoberta que nos [des]estrutura. Se junta tudo se faz um feixo. Muitas vezes sem um bom desfecho. Um o importante é saber por que se fechou.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Tempo e dor

A vida é de choro;

É uma avalanche de dor, e com gritos sufocados.

É como ficar de pés firmes, esperando as ondas caudalosas.

A poesia da dor é inteligível.

Mesmo a lembrança da dor, dói.

Penso que as verdadeiras dores jamais são compreendidas, digeridas e curadas;

O que nos faz desfocar dela não é o amor,

É um rio em dia de enxurrada, que nunca cessa e que só deixa rastros;

A vida é uma tempestade de tempo.

domingo, 16 de outubro de 2011

As Ondas

Estendida no chão, eu sentia a brisa;

E diante de mim uma extensão amarela, sendo lambida, beijada, escarrada, como queira, por lábios de espessuras variadas, com humores também variados. Ou seja, pela manhã, uma dama. Classuda, de gestos gentis, sorrisos sem extravagância, que chama hipnotizando. No entanto pela tarde, ensaia a dança, como uma mulher autenticamente feliz, alegre, triste, mas sempre corrente. À noite, porém, é uma cortesã. Forte, revolta, ressacada, insistente e que não quer esconder o que sente. E de fato não esconde, pois este papel não lhes é designado, ao contrário, ela foi feita para falar, sorrir e gritar. Ainda que nada possa ouvir por estar a falar, ela consola por ali sempre está.

Esta obra é tão perfeita que não há de ser gente, e sim, as ondas do mar.

Sinto no meu caos, a sua mão apaziguando.



domingo, 18 de setembro de 2011

Amar é sentir

Onde desembocam os amores?

Talvez nas marés inconstantes, aonde as espumas vão e vem flutuante, lambendo para limpar as areias constantes.

Nossos pés que marcam aquela macia linha estreita do areal são pés duros e rachados das caminhadas brutas, que por sua vez não sabiam daquela sensação de andar sobre as únicas nuvens que há no chão. Entre a caminhada, entre um passo e outro, são fechados os olhos para a mais ampla visão: a sensação.


Jane Bem

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Bruma

Que é este amor?

Punição, ou, para si um desamor.

O que há neste membro estendido?

Mãos amigas, ou, garras aquecidas.

O que há neste discurso?

Falácia ridícula, ou em suma, uma fraqueza desmedida.

O que há neste corpo?

Um lugar de amor, ou, o gosto efêmero da carne e do gozo iminente.

O que há com o teu amor?

Uma cegueira, que mente, engana e te mata,

Mas não ouse falar que é amor.



Jane Bem.

Encruzilhada

Ventos de rumos distintos;

passos apressados pelos calos, ou pelo desespero;

talvez árvores, que alentam por algum momento;

caminhos alvoroçados correndo como corrente;

e a dúvida ao seguir;

é a encruzilhada quem me confunde

igual à cruz e a faca de dois gumes


Jane Bem.

domingo, 4 de setembro de 2011

Exorcizando

Talvez esquecendo um pouco das pessoas, das nossas pessoas, poderíamos lembrar mais de si. Apenas de si mesmo; sem exceção. Admitirmos não basta, mas aceitarmos que os demais nos compõem e que sem eles você, é só você, uma palavra que carrega um significado irrelevante quando o contexto envolvendo as pessoas com as quais compartilhamos e buscamos nos encontrar não é levado em conta.

Aceitado tal argumento chega a hora em que você só tem a você mesmo. Mas um você com peso, com as fadigas e as alegrias, e mesmo contendo tudo, você pode e deve ser você sozinho, sem que precise ser lembrado por estar coligada a alguém. Mas este reconhecimento não é válido para os demais, mas apenas para você. Não esperar que nos digam o quê, e quem de fato somos é crucial dadas as inúmeras interpretações, e que estaremos incluindo em várias, pois não somos apenas um, ou contendo um único aspectos que nos fazem ser, aquilo que pode ser chamado de “síndrome de Nemo”, ou seja, único. Carregar o fato consumado como diz o ditado popular de que, no final “todos estão andando para você” deve ser mastigado e digerido.

Passar muito tempo querendo que seus pensamentos convertam para aquilo que você julga que é certo é pura perda de tempo. Jamais maledicência. Criar expectativas, palavra que despensa explicações, em que sua codificação, morfologia e semântica basta. Por isso, acorde, faça o que tenha que fazer, ajude quem de fato quer e precisa ser ajudado, sorria com quem queira sorrir com você, converse com quem quer lhe ouvir, e os demais; bem, ele são demais para você perder tempo; exorcize-os.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Há sempre algo clandestino

Como já dizia a autora, temos uma paralela felicidade clandestina; aquela que cobiçamos, sonhamos e até acreditamos que tocá-la já é fato concretizado, até, caímos na real e a vida nos estapeia à face e nos diz: “sua vida é um mar de reminiscência e remanescências”. E são estes pedacinhos que te constituem, te fazendo parecer o mostro feito de retalhos que via nos filmes de infância.


Fardo mesmo é quando os pedaços demoram a se acoplarem e assim formarem algo - ainda que desconhecido- mas unido.


Uma humilde senhora de olhos azuis e fadada de fracassos, aliás, de pequenos fracassos que com o tempo se fazem grandes, me disse: “Nós não somos felizes, apenas temos momentos de felicidade”. Frase perfeita para quem gosta do clandestino, do descabido, das aventuras, onde utilizar esta frase para dizer que deseja aquilo que todos dizem que não teremos – e de fato não teremos- e que nos recusamos a ver por uma simples opção, já virou clichê. Por vezes não nos atraímos pelo decoro, buscamos o obvio no indecoroso, no sujo, no fundo poço. E o fundo do poço ao contrário do que se pensa é onde o sofrimento acaba, pois nossa mais inteligente e “obrigatória” decisão é a de recomeçar.


Jane Bem

sábado, 30 de julho de 2011

Onde me vejo!

Viena


Devagar, sua louca criança.
Você é tão ambiciosa para uma jovem.
Mas se você é tão esperta, me diga porque continua com tanto medo?
Onde está o fogo?
Pra quê a pressa?
É melhor você aproveitar isso antes que você perca
Você tem muito o que fazer e tão poucas horas em um dia

Você não sabe que quando a verdade é dita
Você pode conseguir o que quer ou pode apenas envelhecer?
Você vai desistir antes mesmo de passar metade do caminhoQuando você perceberá? Viena espera por você

Devagar, você está indo bem
Você não pode ser tudo o que você quer ser, antes do seu tempo
Embora isso seja tão romântico no limite de hoje a noite, hoje a noite.
Tão ruim, mas é a vida que você segue
Você está tão à afrente de si mesma que esqueceu o que precisa.
Embora você possa ver quando você está errada
Você sabe, você nem sempre saberá quando você está certa, certa.

Você tem sua paixão.
Você tem seu orgulhoMas você não sabe que apenas tolos ficam satisfeitos?
Sonhe, mas não pense que todos os sonhos se realizarãoQuando você vai perceber? Viena espera por você

Devagar, sua criança louca
Tire o telefone do gancho e desapareça por um tempo
Tudo bem, você pode permitir-se perder um dia ou dois
Quando você vai perceber?
Viena espera por você.

Você não sabe que quando a verdade é dita
Você pode conseguir o que quer ou pode apenas envelhecer?
Você vai desistir antes mesmo de passar metade do caminhoPor que você não percebe? Vienna espera por vocêQuando você vai perceber?
Viena espera por você

Billy Joel

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Necessidade

Seria prostrada se não pudesse sentir o que digo, ou dizer o que sinto.
Em minhas cordas vocais há mais que emissão de som sem sentido, há nela o que sou e através dela o que pretendo ser. Em minhas palavras há minha existência, e nela regozijo minhas filosofias tolhidas, meus tormentos e razões. Em tímidas e reduzidas linhas vou exaustiva e continuamente tecendo e me compondo com o objetivo de completar-me.
Missão nobre, firme e necessária. Mas é vã; pois aos vinte e cinco busco algo para que aos cinqüenta e cinco chegue à conclusão de que não precisava do que buscava. Sendo assim, acho que buscar através das palavras é por essência minha missão. Cascavilhar meu ser é por opção, a minha obrigação, para que eu possa escrever o amor, a dor, e que sozinha carregue meu próprio andor até o fim. Espero que nas travessias possam estar minhas mãos amigas e que estas digam que estará próximo do fim as minhas agonias. Ainda que na falta de veracidade, a intenção seja minha felicidade.




Jane Bem

domingo, 24 de julho de 2011

Reivenção

Tudo que tenho é tudo muito velho; sentimentos, aparência, amigos, família, amores... Todos são clichês. Mesmo os belos sentimentos, eles se repetem não repentinamente, pois tudo em mim, e em torno de mim gira lento. Alguns sentimentos vão se desvencilhando e tomando forma como se nunca tivesse sido (forte, belo, único) e vivido. As nossas velharias são lindas por serem fadigadas pelo o tempo e por falarem de nós, por conterem marcas; marcas estas que caracteriza aquilo que é genuinamente nosso. Penso que todos os elos devem ser cultivados e recriados. A reinvenção é um nível de compreensão da qual poucos se apropriam, e tudo aquilo que é reinventado é amor vivo, se apoiando no mesmo para enfrentar as mudanças. Aquilo que se recusa a ser recriado é muito possível que não tenha existido.



Jane Bem

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Onde estão os sentimentos?

Tantos sentimentos nestas linhas inúteis,
Tantos calos causados pelo costume.
Velados pela correria, morre a calma de se apreciar o dia;
Cadê a autonomia? De parar, pensar e quem sabe, sorrir das agonias.



Jane Bem

terça-feira, 10 de maio de 2011

Moça

Sou moça complicada.
Amei e não fui amada.
Amei e fui amada.
Amo e sou amada.

Em todos os amores sorri e chorei.


Passei e fui reprovada.
No vestibular reprovei,
No vestibular enfim passei.
A amiga me aprovou,
Minha conduta a sogra gostou,
Mas ainda brigo com o amor.


Ele me aprova e reprova constantemente.


Ainda não me encontrei.
Não trabalhei quando quis,
Trabalhei e gostei,
Trabalhei também quando não gostei.
Quero o ócio.

Sou sonho.
Tenho sonho.
Sou mulher.
Tenho homem.
Tenho vida.
Tenho tédio e por vezes, quero que tudo suma.
Sou boa.
Mas, não me conheça bem.
Não sou mostro, nem megera,
Sou moça complicada.



Jane Bem

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Perder-se

Acordei desatinada
Quando me olhei no espelho
E não consegui ver minh’alma,
Nem nos espelhos d’água.

Ofegante,
Cheirei com os olhos
Uma vista errante.
E me deparei parada.

Olhei ao meu redor,
Futriquei todos os cantos,
E não vi sequer um dano
Que eu pudesse responsabilizar.

Tive a certeza de que era eu,
Ou alguém que criei
Um anjo só, tão só que me encurvei
E, chorei... Apenas chorei.



Jane Bem



sábado, 30 de abril de 2011

Retirante por obrigação

Sou retirante desde pequena.
Antes me deslocava apenas de territórios mais amplos.
Depois, de casa em casa;
E tudo era para mim era uma grade diversão (porque eu não sabia);
Mas agora, consciente de que não desejo isso,
E por ser a única solução;
Fico em prantos, aflita, perdida e com o coração na mão.


Jane Bem

Traiçoeira

Minha mente desenha ideias tortas que não consigo definir. Uns rabiscos aleijados, feios, negros, uns abertos e outros fechados. Tudo muito turvo. E no torvelinho, soa o meu choro fraco, pois a demência retira-me as forças até para lamentações. Minha mente me dá asco ao deletar minha solidão. Esta penumbra é rude e persistente, como se eu, fosse um verme (lento) que corroeu os sonhos e as ilusões. Não me atires condenações por esta infelicidade, pois até mesmo nas largas estradas, há pés cansados de desilusões.




Jane Bem

quinta-feira, 28 de abril de 2011

As dores doem assim

Doem-me todas as partidas,
As dores findas
Dentro de mim.

Vem-me um choro doloroso,
De manso mando até me possuir,
Como uma fácil presa, onde meu coro não se possa ouvir.

Estas dores nuas
Mas masmorras ou nas ruas,
Na tristeza e na ela alegria
Ela existe em mim.



Jane Bem

terça-feira, 19 de abril de 2011

Bilhete

Se tu me amas,
ama-me baixinho.

Não o grites de cima dos telhados,
deixa em paz os passarinhos.

Deixa em paz a mim!

Se me queres,
enfim,

.....tem de ser bem devagarinho,
.....amada,

.....que a vida é breve,
.....e o amor
.....mais breve ainda.

Mario Quintana

domingo, 17 de abril de 2011

Girassóis

Somos como os girassóis, vacilantes, altivos e amarelos. Sugamos do mundo tudo que deveras sonhamos, e gostamos de sugar, e sugar, e sugar... Nossa ferocidade nos imputa o nome de homem quando nem mesmo nós assimilamos este dom de estar a amar. Grotescos, rudes e endurecidas são nossas raízes, não se sabe se por sofrimento ou por alma colidida. Mensuras tua existência? Somos parte de uma estante, que não finca um só instante até sabermos o que ser. E com o sorriso amarelo, caímos em si que não somos belos como os girassóis.


Jane Bem

Em cada...


Em cada pedaço, uma canção
Em cada fragmento, uma emoção,
Em cada emoção um devaneio,
Em cada devaneio, um cavalheiro,
Em cada cavalheiro um coração.



Jane Bem

sexta-feira, 15 de abril de 2011

A fé de Padre Estácio

Padre Estácio, sempre austero fazia suas andanças matinalmente entre 8 e 10h, e no final da tarde entre as 15 e as 18 horas quando voltava à paróquia da Cidade de Malta. As andanças do padre o faziam bem demasiado, pois nestes passeios ele sentia que seus fieis o ouviam e o respeitavam como o mesmo gostaria que a sua família o fizesse. Esta falta suprimida de Padre Estácio reside no fato de que sua família morava distante, tão distante que a saudade adormecera a maior parte do tempo dentro do peito dele. Enclausurado em sua pequena casa ao lado da igreja, se perguntava sempre se um dia estaria envolvido num manto de pessoas queridas sem que precisasse marcar hora como se fosse um médico. E se as pessoas não o buscariam como alguém iluminado, ou psicólogo divino. Quando Padre Estácio sentia saudades da família, era porque ele sentia saudade de ser Estácio, somente Estácio. Filho, sobrinho, padrinho, sentia falta de pedir carinho, e de sua mãe trazendo bolo de fubá no lanche do fim da tarde. Ele sentia falta de ser espontâneo, e, por vezes errar. Eram tantos os problemas que os seu fieis lhe confidenciava – e esperando no fundo que ele os solucionasse como se fosse Deus. No fundo, as entidades religiosas elegem o líder para guiá-los, e estes líderes com o tempo se acostumam em ditar o certo e o errado parecendo ter sempre razão mesmo quando o coração do fiel quer ouvir o contrário. Os líderes religiosos brincam de ser Deus; e não há como condená-los. Nós os queremos assim, responsáveis por nossas vidas para que não precisemos nos justificar pelos erros, queremos no máximo ouvir que estamos errados, mas punição, não.

Numa noite chuvosa doeu perceber-se na fria solidão, era como se a cada canto da casa houvesse um bicho feroz; Padre Estácio sentia-se na cova dos leões. Logo que esta sensação o arrebatara, se encolhera na cama como uma criança abandonada por alguém, que nem o próprio sabia de quem. Levantou-se da cama como um ato de coragem e sentando, orou. Rezou o pai-nosso, mas pareceu vacilar na fé, pois a mesma não dava resultado. Suas mãos esfriaram e logo foi se espalhando pelo corpo aquele medo. Foi então que surgiu em sua mente a nostalgia da infância, quando sua cama era quente de carinho. Ao lembrar-se de sua mãe que com o candeeiro aceso na hora de dormir, lhe contava histórias bíblicas, e todos os dias ele esperava ansioso por este momento, não se sabe se era para estar mais próximo de sua mãe ou se de Deus- quiçá dos dois. A única certeza que ele sentia era a de que eram momentos de prazer. Esta é a palavra que definia aquele momento; prazer. Em nesta noite chuvosas o Padre lembrara-se que sua mãe lhe falava com muita convicção:

-Não tema. Nunca tema.
-Não vacile diante de Deus, pois ele está ao teu lado, e sabe tudo, absolutamente tudo o que sentes.
- Quando teu coração por todo e qualquer motivo, em toda e qualquer idade te sufocar até doer, não te esqueças de Deus. Teus medos não encontrarão respostas coerentes sempre, isso, se encontrar alguma resposta.
- Ame a Deus por amar.
-Mesmo quando eu não estiver ao lado de sua cama para te dizer isso.

Sua mãe o fitá-lo seriamente. Não deixando espaço para que ele se distraísse com outra coisa além daquelas palavras. Ela deixara claro que um dia definitivamente não estaria mais ali, nem ao lado da cama, nem neste mundo, pois tudo é efêmero. Nossas vidas são um sopro, disse sua mãe. Neste momento ela disse que na desilusão ele fechasse os olhos, para que não olhasse para imagens, e visse em seu coração o seu próprio Deus. E que pedisse proteção ao seu anjo, seja ela, -sua mãe - ou Deus, querubins, pessa nesta singela oração;


"Santo anjo do Senhor
meu zeloso guardador
se a ti me confiou a piedade divina
sempre me rege
me guarde
me governe
me ilumine
Amém."



Sua mãe o contara que aprendera com seu pai quando menina. Disse também que muitas noites antes de dormir repetia a oração e repetia a si mesmo que no dia seguinte, tudo cessarei, tanto as dores quantos as agonias. Nesta noite, quando era menino, orou esta oração e chorou desolado pelo medo de algo ainda desconhecido. Nunca abraçara sua mãe com tanto amor, com tanta ternura; ele sabia que naquele momento seu anjo o protegia, naquele abraço que mais parecia um escudo diante das maledicências da mente e da alma, ou de algo ainda maior. Trinta anos depois daquela noite, que ele se recordava como se tivesse sido ontem, ele chorou. Aos prantos e abraçado com a saudade ele rezou, chorou, dormiu, acordou e no seu intimo, ainda havia um vazio. Antes da missa, ele não quis receber nenhum fiel em sua casa, pois ele não queria celebrar de corpo presente. Ele desejara estar pleno, ou, ao menos tentar estar. Refletindo sobre sua solidão, Estácio se lembrou de uma das mais importantes histórias bíblicas que ouvira na infância, que era a história dos irmãos Caim e Abel. Especificamente de uma passagem que o fez entender o que ocorria em seu coração; passagem esta que dizia;

-E disse o SENHOR a Caim: Onde está Abel, teu irmão?
-E ele disse: Não sei; sou eu guardador do meu irmão?



Ao se atinar a esta história e a esta passagem, Padre Estácio se deu conta de que neste mundo tão novo, tão cheio de novidades, tão rápido, tão apressado, esta forma de mundo o atingira de forma peculiar, ao perecer que falamos o que Caim falou a Deus a cada instante, sem ao menos percebermos ou refletimos. Pior que falar estas palavras, é a prática delas. Fato é que não cuidamos mais do próximo, não queremos cuidar. Nosso mundo é constituído de uma sociedade individual que não vive na realidade como ela se apresenta. Vivemos num mundo onde idealizamos nossas relações, que estão a cada dia mais distante, onde os olhares não são tão comuns como deveria ser, pois, com tantas mudanças, resolvemos mudar isoladamente. Nossa práxis é obsoleta. O padre se deu conta que indo de casa em casa, fazendo o seu trabalho de forma correta não mudaria nada. Nós sozinhos não mudamos nada. Absolutamente nada. Não há razão em nos dedicarmos cinco dias da semana trabalhando e reservar um dia para o voluntariado, isto não é mudança, mas uma auto-redenção de forma bem intencionada. Enquanto quisermos fazer os nossos trabalhos sozinhos, achando estar tranqüilizando a mente, esqueçam. Nossa vida pede, clama coerência. Nossas ações são o que nos edifica. Nossos desejos estão deturpados, pois desejamos ter muito mais sozinho pro não querer descaradamente dividir o mérito.


Neste momento, entendeu o porquê do seu medo. foi não ter alguém para abraçar, como fez com a sua mãe, se deixou dominar na noite passada, pois, estava só. Não havia ninguém para dividir sua causa significado que dar sentido e origem a palavra, campanheirimo. Ele sentia de falar de suas dores ao invés de ouvir a do próximo como se não as tivesse. Não havia troca na sua relação com os demais que ele julgara acalentar.

Na missa, Padre Estácio resolveu contar como fora sua noite anterior e, como tivera chegado à conclusão de sua solidão, e a partir desta manhã sugeriu práticas coletivas como rotineiras, não como fatos isolados. Que aprendêssemos a nos olhar como irmãos, e não como vizinhos colegas, ou santidade superior. E nesta mesma missa, ratificou que mesmo no desalento, o dia seguinte será sempre melhor; pois tudo depende da nossa fé em Deus, no próximo e nas ações.

Jane Bem

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Chegadas e partidas

Soou o sino
E bate consigo a tristeza de um menino,
Que busca na saudade
O afeto do abraço que foi tão forte e lindo.

Os corações se unem
Envolta da memória,
Que repetem consigo;
- Como foi linda a nossa história.

Parte-me esta dor pela partida,
Estes laços eternos,
Vividos pelo milagre da vida.

Vem vindo e ficando manso nesse relicário
A visão de teus passos se aproximando pra ficar ao meu lado;
A luz do teu sorriso grita a alegria
Que se explica com sua vinda.

Soa sino!
Para que todos saibam
Do meu destino, que se emendou
Com a euforia de matar uma saudade
Que só quem ama é quem sabe.



Jane Bem

Encanta Fernando!

O AMOR, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há-de dizer.
Fala: parece que mente...
Cala: parece esquecer...

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
P'ra saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe,
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...

Fernando Pessoa

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Um pouco do que somos

Nossos corpos são arquivos
Selecionado e dividido
Pela emoção.


Nossa mente é um indício
Dos segredos belos e ignóbeis
Por trás de uma narração.


No coração há um motinho
Que não nos cabe dar razão,
Apenas esticar a vida e não morrer de solidão.


Jane Bem

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Amor é amar

A uma moça, cujas feições nem são lindas nem feias, ela é apenas bonita. Como toda mulher, ela tem um jeito por vezes taciturna, e outrora límpida, leve como as nuvens. Ela se assemelha demasiado com as nuvens; alva, de relevância leveza, e pensamentos nômades assim como as nuvens fazem a todo instante; ambas são mutáveis – As nuvens e a jovem.


Nesta conjuntura, percebe-se que a moça trás consigo uma graciosidade singular. Rosto angelical, temperamento turvo e sereno, enfim, ela é uma mulher. Seu jeito sedutor – não sensual- atrai a curiosidade de alguns rapazes, por ela deixar a impressão de que cada ser é único, e todos gostam de se sentirem únicos. A moça de certa forma enfeitiça os homens e a ela mesma. Ela é enfeitiçada por não saber e, por achar justamente o contrário, ela acha que não enfeitiça ninguém. Ela não sabe de sua graciosidade, pois seus pensamentos diferentemente do que se imagina olhando-a são um tanto obscurecidos. Apesar de risonha, vive uma espécie de viúves para com a alegria. Uma das maiores evidencia é a de que Sara engana sem querer enganar, engana por precisar enganar, mas nunca por malicia.


Com um intelecto mediano por assim dizer, não é boa nas matérias didáticas, mas como se diz por aí: “ela dá o sangue para aprender”, principalmente aprender o que lhe dar prazer, com o que não dá prazer, ela no máximo “se safa”. Sara é apaixonada por romances, poesias, - tendo uma queda maior pelas prosas por durarem mais. Ela quer esticar ao máximo o amor. Ao passo que a menina se mergulha nos livros, e os demais a confundem com intelectuais. A princípio, ela se envaidece e até tenta manter o status, mas ao não dar conta confessa que apenas gosta de ler, por puro prazer e lazer, e que, por favor, não façam perguntas com grande complexidade que a resposta correrá sério risco de ser no mínimo descabida. Ela odeia o descabido. Ela é descabida. Em suas prosas lidas já viu o que gostaria de ser e personagens que a retrata fielmente. E, se sente decepcionada em não ser o que gostaria, mas por outro lado se alegre em ver que há mais igual a ela.



Lá pelas tantas da vida, Sara resolve viver um pouco mais aventuradamente no mundo amoroso, mas logo viu que não nasceu para ser de vários. Que é moça que tem como temática ainda o conservadorismo, e não se incomoda por isso, se incomoda por não ter percebido isso antes. Sara é menina de ir ao cinema com o rapaz que gosta. Não gosta de grandes festas. Todo este intento é para que possa se mostrar vagarosamente, a sua alegria, que a mesma julga peculiar e muito discreta por assim dizer. Ao ser ela mesma, encontrou o amor; como se este enredo já não houvesse sido lido antes, mas os jovens são assim, os jovens são dotados de um belo ceticismo burro em não acreditar naquilo que foi dito como justificativa para vivê-lo. Será que são burros mesmo? Neste - como nos anteriores - amor, ela sentiu medo. No começo todos sentimos medo. Acanhada para demonstrar afeto, mesmo que no seu ímpeto surgia uma violenta vontade de acariciar o rosto do amado, de beijar-lhe com mais intensidade, ela sempre recuava a fim de esperar um momento oportuno. Existe momento oportuno? Criamos os momentos, vivemos o que criamos, e criamos o bom e ruim de acordo com o que pensamos. O rapaz era paciente e sagaz ao ver a vergonha na moça enamorada, e mesmo com este comportamento gostava ainda mais dela, pois ele apreciava a timidez. Ele gostava de vê-la desabrochar, assim como fazem as flores na primavera. Sara era para ele uma flor na primavera. E, com o tempo, ela foi despindo-se de suas vergonhas e exprimindo suas vontades, mas ainda sim, Sara continuava a ser uma flor de primavera. Ele amando-a, admirava seus pensamentos, ao passo que mesmo quando se dava conta de que pensava tão diferente dela. Suas palavras se encaixam a cada conteúdo desmembrado. Ela tinha uma secura intrínseca, e ele, uma doçura inerente. Ele entendia das coisas do mundo, e ela, entendia das coisas da alma. Do subjetivo. Ambos possuam uma carência que aos poucos passou a ser preenchida a cada diálogo, a cada gesto diverso a personalidade de cada um. Ambos precisavam aceitar, gostar, apreciar, e o mais importante, respeitar o diferente. E quanto mais conversavam mais se gostavam, e quanto mais se gostavam mais se queriam, e quando mais se queriam mais ouviam, mais falavam e mais se entendiam. E foi numa tarde modorrenta que ela, moça subjetiva e de fato muito inteligente que era, olhou o rapaz e disse: nossas convergências são comungadas no amor, e nossas divergências são vividas e celebradas no amor. Apenas, e tão somente no amor.






Jane Bem

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Não há explicação para o não

No declínio do amor

Farpas ásperas saem do teu intimo,

Como a infinita órbita e seus giros.


Por que desamar?

Será que não poderíamos, por favor, pular a parte do chorar?

Era tão gostoso te olhar,

Desaguávamos-nos um no outro como o rio e mar.




Em que parte sumiu teu amor por mim?

Onde esqueceste de lembrar de mim?

Vais de fato partir?

Então, que partas de imediato, para que leves as raízes deste meu disparato.

E que no amanhecer eu possa, com ou sem forças dizer;

Foste para sempre,

Mas minh’alma não ei de perecer.



Jane Bem

segunda-feira, 4 de abril de 2011

O desejo é de Joana

Tenhas calma Joana

O que causas é só sufoco que uma linda e verdadeira dama pode causar.


Aproveita Joana

Enquanto és formosa, com uma pele limpa como porcelana.


Dança Joana

Para que todos saibam de tens uma doença chamada alegria, e uma falta de decoro quando ama.


Escondes-te Joana

É melhor que ninguém saiba de teus devaneios,

Que és puta de homens vis só pelo desejo da carne e não de quem ama.


Jane Bem

Celebrar é amar

Olha para este laço firmado de um amor por um acaso exato, e, fique feliz em estar ao meu lado. Cumpra seus ludos ao meu lado, para que nada que ames passe assim passado. Por vezes destoe do certo, para que no incerto tenhas certeza que me amas, e que sem mim a vida apenas te engana. Pois, quando cansarmos de nos amar, de nos desejar; Vamos nos sentar na nossa velhice e sobre nossa vida, sorrir, recordar, falar, e falar... De como é e sempre será lindo amar.


Jane Bem

quarta-feira, 30 de março de 2011

Mudar é preciso

Nossa tarefa é mudar. Não mudar por mudar, mas mudar para e por aprender. Nossa finalidade diária é aprendermos algo novo, não importa o que seja: um ensinamento, uma palavra, uma teoria inédita, um amigo novo, para devagarzinho ir acrescentando vida vivida na nossa mala. Aprenda se sentir prazer, se quiser dar prazer, se quiser alimentar o seu ser. O novo renova.
Sejamos transitivo; assim como a vida. Caso não deseje mudar, espere consciente pelos atropelos dos seus que mudaram e talvez você não tenha notado, e não os culpe por isso.


Jane Bem

sexta-feira, 18 de março de 2011

Resgate-se!

Veja esta pegada;
Passe e não olhe para nada;
Pegue esse peixe;
Não o deixe escapar.

Olha a brisa,
Não busque briga,
Mas brigue quando precisar;

Brigue pelo amor,
“brigue” pela paz,
Evite o medo,
Você é capaz.

Nade contra a corrente,
Nade entre toda essa gente,
Mas nunca contra essa gente
Pois ela é quem te faz.

Resgata a tua ideologia,
Resgata a tua teologia,
Edifica-te rapaz!

Vamos saudar o tempo,
Os velhos,
Os ventos que outrora passaram,
Que não voltam jamais.

Vamos andando,
Vamos seguindo,
Fazendo os fatos de nosso tempo,
Sonhando em ser mais.


Jane Bem

Olhou até achar o amor.

Esses olhos sedutores
Insaciáveis em busca de breves amores
Canta alegre por ver.

Suas vistas cheias de mentiras
Confundem-se com as verdades findas
E não queres ver.

Teu ludo por todas
Não passa de uma brincadeira tola
E te entristeces por está cansado de saber.

Na travessia, Teu olhar parou,
Ela passou, e, teu verdadeiro gozo se fez,
Apaixonastes-te pela ingênua moça
Que nem sabes de onde vem.

Acordas triste e alegre
Um de cada vez,
Ela te olha com afeto tanto quanto desdém,
Tua gana por uma vida doidivanas cessou;
Com um olhar, ela te enfeitiçou;
E tu, o que farás com esse amor?


Jane Bem

terça-feira, 15 de março de 2011

Apenas diga sim!

Que se dissipem nossas aflições, para que no mesmo lugar se entranhe a alegria. Que esta festa seja ruim de tão boa; que todos nós fiquemos bêbados de amor, embriagados de paciência, estúpidos de tanto brincar. Que as maledicências se convertam em virtude concomitantemente para que enjoemos do bom, ou, bom o enjoe de nós e pontuemos que o ruim é bom também. Mas, vivamos esta festa para sentimos que a vida é boa, e que não à toa estamos aqui. Vamos usar esse vasto mundo, dançar as músicas, acalentar o amigo, sorrir sem perigo de sorrir do ruim (por falta de opção). Vamos ser feliz. Vamos viver.
Jane Bem

segunda-feira, 14 de março de 2011

Quem é dono de quem?

Os escrúpulos são escudos.
Combate a própria dor, medo, o orgulho e o desamor.
Sobressaltamos-nos à nossa própria existência,
Por que a vida é para nós uma imensa indulgência.

Somos miúdos
Surdos;
Cegos;
Injustos;
Escrotos;
E mudos.

Queremos o mundo ao nosso jeito,
Ou seja, de jeito nenhum.



Jane Bem

O simples e o complicado, é amar.

Teus burburinhos me causa mal estar,
são cheios de intrigas sem nexos.

Teu alvoroço é peculiar,
implicas, brigas e ainda quer me amar.

Sinto tanto quanto você,
nos amamos, e mais,
não sei viver sem você.


Jane Bem

quinta-feira, 10 de março de 2011

Amor Perdido

Recostei meu corpo.
Meu corpo descansado e minha mente fadigada.


Recobrei a memória,
Sei que o que foi não tem mais volta, estou fadada.


Abracei o que tinha,
O que eu tinha? Nada de valia.
Estou arruinada.


No devaneio estou imersa.
Quero um único esmero que me faça sorrir.

Estou cansada, fadada, arruinada, abandonada,
Fato é; amei tanto que esqueci que tudo tem um fim.
Exceto a mim.

Jane Bem

terça-feira, 1 de março de 2011

Cresceu minha videira

Diante de uma árvore eu cresci.
Aliás, crescemos juntas.
Rangiam suas folhas, ao passo que meu corpo esticava.

Enfim crescemos.
Ficamos altas.
Ficamos forte.
Ficamos fase.

Um dia tive que partir.
Fui cruel,
Cravei em seu peito
Meu nome, para que ela
Não esquecesse de mim
.

Jane Bem

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Sou Flor

Sou flor!
Pela beleza e ausência de dor.

Sou flor!
Estou em tantas campinas,
De corpo e alma fincada.

Sou flor!
Sem cor,
A espera que tu decidas meu tom.

Sou flor!
Gostaria de me colorir de carmim,
Cor de luz firme e vibrante.

Serei sempre flor e seja como for,
Estarei a te esperar,
No chão, frágil, a mercê do vento,
Enquanto espero teu intento.


Jane Bem

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

É confuso ser comum

Não tenho só amor altivo ou só piegas;
Tenho também, um amor altivo e piegas.
Tenho a doçura do passar, uma imensa dificuldade de me desvincular, de partir, de te deixar, de não mais me possuir, de me fatigar de tanto me amar.
Não temos certeza, estamos sempre a espera da esperança e por isso andamos na corda bomba da incerteza, aquela corda que excita, a corda que tem o fio da eternidade.
Não somos piegas, somos sofridos. Escolhemos sofrer por (de) amor, por que não há paz sem amor. Eu, não quero a paz sem amor. Quero que teu afeto me esmague de dor, até que eu, diga; basta.
-Por ti não quero sofrer!- Então busco um outro coração, que me fite com o olhar, que me iluda que para sempre me amará, para então de novo sofrer.
Enxugando os olhos a cada laço de emoção, recolhendo o sumo de toda relação, partirei, até o dia em que pararei.
E quando eu parar, e quando eu parar de procurar que não seja propositalmente, mas sim naturalmente, para só assim pensar, refletir, me encher de mim, e mais uma vez me doar.
Então na minha paz, num parque, na praia, ou num passeio pelo cais, ei de encontrar, um amor diferente, quero me sentir suficiente à mim e a ele. Que eu não chore o dia inteiro, por não ser sempre bela, por ganhar pouco, nem fazer sentinela para ter a certeza do amor.
Me desacoplei do amor intenso. Quero uma casa modesta, pintada de beje, para que as cores surjam dos novos natais, do azul do céu sobre vidraças das janela na hora de almoçar, onde entre luz para nos iluminar. Nos veremos desmascarados, amuados, estranhos, singelos, gentis, que apareça tudo, principalmente que nos digamos sempre que somos amados.

Jane Bem

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

A música e o vagabundo

O que há nesta flauta?
O que há neste violão?

Um sopro de vida,
E um tantinho de solidão.

É um destino de amantes
Entre a música e o fanfarrão,
Que dança!

Ele joga com força o corpo fétido
E fica bêbado de emoção.
Vai dançar ó alegre coração!



Jane Bem

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Brincadeira de mulher

Te arrebatei o coração,
Tão forte que, paraste de nomear a sensação.
Tens de me perdoar.

Com meu véu de mulher;
Não te toquei e te seduzi, não deixastes o pano cair;
Desejei tanto meu ego quanto te iludir.
Tens de me perdoar.

Fui vil com teu sentir,
Na minha armadilha caí,
Estou a te amar.
Tens de me perdoar.

Sou tola, insana, biscate, amante,
Quero que sejas meu homem,
Te clamo!
Tens de perdoar.

Vem ouvir meus murmúrios de dor,
Vem sentir meu pulsar,
Vem, vem, vem...
Tens de perdoar.

Vieste me encontrar;
Mesmo com minhas infames miudezas,
Em teu coração há amor e dor, mas,
Queres me perdoar.



Jane Bem

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Palavras Insanas.

Vou deixar meus poemas de cabeça para baixo,
falar que o amor é um ato errado.

Cuspir na decencia,
"Louvar a doença".

Não pedir licença
Não ser ética, jogar ao ar a etiqueta.

Não me orgulharei desta escrita,
Concebas que não sou uma escriba,
Também falamos, sentimos e somos o feio.


Jane Bem

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Encontrando - me

Pensei se não seria mais fácil simplificar.
Não pensar, me entregar e ver no que dá.

Pensei se não seria melhor construir.
Um relicário, uma biblioteca, um mostruário,
Só não pode ser nada ordinário.

Pensei se não seria mais fácil desistir.
Não fracassaria, não me frustraria, mas é fato, não me orgulharia.

Pensei se não seria mais fácil priorizar.
A carreira profissional, tocar um instrumento musical,
Mas tanto pensei e quase me esqueci,
Necessito ser altentica e não fazer o que ouvi.

Jane Bem



O Título

Uma das coisas mais dificeis é entitular.
Dizer em algumas ou em apenas uma palavra "tudo" aquilo que se quer é um tanto penoso.
Ao ver um pássaro e seu gorgeio, e o mesmo me desperta encantamento não quero falar cruamente de um determinado pássaro em uma determinada árvore com um determinado canto. Como se fosse possível determinar.
Quero sempre mais que relatar, quero (meu grande e insistente anceio) fazer sentir ao máximo, não o que eu senti (é impossível), quero apenas o sentimento, seja ele qual for. Não quero rótulos, mas sim um motivo para buscarem o que desejo que sintam, ou ao menos saibam que naquele instante eu senti, e o quê senti.
O título é um convite,
o título é uma denuncia,
o título é o mebro superior, ou seja, ele diz o que será.
Pensas que o título é simplificar ? Experimente escrever.



Jane Bem

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Sussurros

Cancelemos tudo.

Vamos só ouvir. A música é uma forma mágica de amor justamente por dizer tanto e ter um fim tão breve. Música é aquele caso de amor com o silêncio.

Agora:

Procuremos um espaço.
Dei-me sua mão, e vagarosamente às entrelacemos... Envolva sua mão em minha cintura. Recoste seu corpo ao meu. Não há o que temer; nos pertencemos;


Fechemos nossos olhos. Dancemos. Vamos ao nosso ritmo, vamos dançar primeiro com a alma, pois o corpo acompanhará.


E nesta dança, esteja certo, estarei falando o que agora estou pensando...

Eu penso sempre em você. Eu sempre quis alguém como você.
Meu riso é sensato, insano e por vezes amargo,
Mas você acarinha minha alma, e seu amor tem altivez.
Na outra vida, quero amar-te outra vez.
Quero dançar com você todo amor que ainda não dancei.
Foi pra viver que te esperei.

(Com grande amor para um amor ainda maior: Júlio)
Jane Bem

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Perguntas indiscretas.

O que te prende?

Ou melhor, o que te desperta “o sentimento”? Mas aquele(s) sentimento que te faz pulsante, útil e atuante. Música, teatro, pintura, viagens, literatura, bebida, comida, dança, esporte, escrita, ou outrem que não foi por esquecimento citado?
A indagação quer ter como resposta (e se possível apenas uma, a mais relevante) o que você opta como o teu bel prazer, e nesse mundo tão apressado, é importantíssimo ter um gozo.


Qual o seu?


Você se permite ter?

Você se culpa por ter?

Você se culpa por não ter?

Qual é a sua?

Você tem?

Você quer ter?

É tanto e tudo ao mesmo tempo, como se nossos gostos e talentos fossem expostos numa prateleira, onde sabemos que há, mas não se sabe bem o quê, e se sabe, nem sempre é possível levá-lo para casa. E o que você faz quando não der para ter o mais desejável? Você recorre a outro, ou, corre para a mazela? Convenhamos, é fácil não fazer nada. É fácil não ser nada?

O nada é ter tudo e não ser nada. É estar em tantos lugares parcialmente. Esse jogo do tudo ou nada, tudo ou tudo, nada ou nada. Esqueça essa ideia tola do século XXI! O tudo é tudo e o nada é nada. Fato. Não temos tudo, e não nos resumimos ao nada.

E quem você é?

Responda (óbvio se quiser)! Mas relaxe, sem pressão do tudo ou nada, apenas pense e tenha calma.

Jane Bem

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Espasmos do meu passado

Meus pensamento ficam revoltos quando faço o restrospecto de minha adolescencia e nela encontro uma menina de pés flutuosos e pensamentos fincados.
Pensamentos ficandos em apenas a beleza de um único garoto, uns poucos beijos, umas poucas amigas, uns poucos passeios e quase nenhuma ousadia.

Onde eu estava que não aprendi a tocar um instrumento? onde me enfurnei que não fiz nem fui a nenhum luau? Cadê meus poemas diversificados, ou invés de escrever cartas a mim mesma sobre um mesmo assunto (o de toda adolescencia): amor não conrrespondido? Onde eu de fato estava além de julgando, retocendendo e constituindo minha moral de menina moça (que nos é exigido)?

Nem me recordo no que eu pensava e concluia aos 14/15 ano sobre política, literatura, música, família, passeios. Que loucura! Talvez eu não tenha pensado o mundo. Pior, talvez não o tenha vivido. Tenho 24 anos, para muitos que irão passar a vista por estas linha rirão por eu ainda ser jovem.

Mas acredite, estou em espasmos só em pensar que aos 34 posso estar pensando que não vi o mundo além do meu. Fato é que de dez em dez anos se vive uma vida. Já se foi boa e válida ou não, é uma outra história.


Jane Bem

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Mosaico de Vidas

Nossa vida são gomos
cada pedacinho uma face,
um sentido, uma composição.

Acumulei tantos pedacinhos
que arquitetei um lindo e grande mosaico.
O encaixe se dá lentamente para que fique bem organizado.

Possuía alguns interessantes,
amorosos, coloridos, pequenos e grandes.
Era uma festa tê-los.

Na minha euforia em juntá-los
pensei lentamente como colocar e posteriormente me orgulhar.
Medi milimetricamente o lugarzinho de cada um deles.

Mas me enganei.
Seus tamanhos não comportavam seu papel na minha realidade,
ao passo que tentando organizar, desorganizei tudo que gostaria,
esqueci que a todos jamais agradaria.

Grandes pedaços, pequenos espaços,
cores opacas e vibrantes divergiam seus lugares,
egos imensos, egoístas sem me dar um menor alento
convergindo em desagradabilidade.

Parei de querer formar um painel inexistente
com personagens tão diferentes,
e para não destruí-lo (já que idealizei tanto),
guardo-os sem aguardá-los.

Jane Bem

Vamos?

Vamos começar.
Limpemos tudo que suja sua/minha trajetória. A leve poeira transforma-se em espessas camadas difíceis de retirar. Se não pudermos limpar, afastemos ao menos os trapinhos do caminho, pelos menos temporariamente, pois o ideal não é afastar parcialmente, o bom mesmo é que se jogue fora a desordem. Pois mesmo que dê para passar apertadinho no caos, o caos ainda estará lá (se você quiser).
Sejamos fortes, francos, claros e diretos. Já vivemos suficiente e experimentamos muito para “começar”, sejamos sinceros e não nos enganemos, por isso, não vamos começar, pois
(Re)começar é mais coerente no girar da vida.
Jane Bem

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Má Fase.

Estou bem lunar.
Um eterno transitar; É um tal de fica, outro tal de vai.
Tal como os girassóis, hora erguida, hora murcha.

Este cansaço se apresenta forte,
Com momentos de topor, e outrora um mar preste à ressacar.

Sou nova,
Constantemente minguante,
Pouco crescente,
E muito cheia.




Jane Bem

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Desculpem- me pela confusão!

Enquanto estou sentada distribuindo sílabas que formarão palavras com o objetivo de me dar prazer – e geralmente dar- estou com medo. Para ser franca, estou apavorada. O relógio gira, gira, e quando mais (inevitavelmente) ele gira mais apertado fica meu peito.
Isto não se trata de um drama. São só aflições de uma menina que quer muito, se acalma pouco, e não desiste de querer nunca.


Enquanto me deleito nas palavras, “perco” meu tempo não fazendo o que a sociedade me diz de todas as formas que você possa imaginar para que eu faça. Nossa, que vácuo vem se mostrando nosso breve diálogo através de minhas palavras! Perdoe-me leitor! Eu vim desabafas que quero o simples: Eu quero dinheiro (mal necessário), eu quero responsabilidade sem precisar me matar mostrando que sou responsável, eu quero fazer curso de línguas, quero viajar, quero muito trabalhar, quero meu lar. Parece mais difícil do que se imagina.

Sinto urgência, impaciência, espero que se instale em mim a persistência. É só disso que preciso.

Se não entendes minha cabeça, não te preocupes, mas agradeço “perderes” tempo fazendo essa leitura.


Jane Bem

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Na Minha Meninice

Na minha meninice
vi soltarem balões, empinarem pipas,
brincarem de boneca e jogarem fichas (tapinhas de coca-cola).

Na minha meninice,
não sabia bem tudo o que o mundo tinha.

Na minha adolescência,
vi bilhetinho, e o coração cheio de torvelinhos,
beijos amados e tantos outros desnecessários.

Na minha jovem vida adulta,
já não me iludo a toa, criei uma espécie de proa,
a espera dos problemas.
Criamos certa dureza para aguentar.

Mas nas horas vagas, voltamos a brincar.

Jane Bem



terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Do universo à jabuticaba - Rubem Alves

“Saberemos viver uma vida melhor que esta, quando mesmo chorando é tão bom estarmos juntos? Depois da morte eu quero o que o seu vácuo abrupto fixou na minha alma. Quando eu ressuscitar, o que eu quero é a vida repetida sem o perigo da morte, os riscos todos, a garantia: à noite estaremos juntos…” in Alves, Rubem – Do universo à jabuticaba – São Paulo, Editora Planeta, (2010)


Adélia Prado.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Troca e complemento

No areal duas amigas proseando e simultaneamente indagando,...
- Quão belo está este dia!
- Falas do sol que nos “alumia”?
- Também. É como se saíssemos da escuridão dos dias.
- Seus dias são escuros deveras ou você os acinzenta?
- Eu os deixo da forma que posso enquanto passo. Ou seja, deixo a rotina dominá-lo.
- Sei como é!
- Você é parcialmente dona de si.
- exato.
- Mas o que isso tem de errado?
- Nada! Sua vida apenas não conhece o prazer do acaso.


Jane Bem