sábado, 30 de abril de 2011

Retirante por obrigação

Sou retirante desde pequena.
Antes me deslocava apenas de territórios mais amplos.
Depois, de casa em casa;
E tudo era para mim era uma grade diversão (porque eu não sabia);
Mas agora, consciente de que não desejo isso,
E por ser a única solução;
Fico em prantos, aflita, perdida e com o coração na mão.


Jane Bem

Traiçoeira

Minha mente desenha ideias tortas que não consigo definir. Uns rabiscos aleijados, feios, negros, uns abertos e outros fechados. Tudo muito turvo. E no torvelinho, soa o meu choro fraco, pois a demência retira-me as forças até para lamentações. Minha mente me dá asco ao deletar minha solidão. Esta penumbra é rude e persistente, como se eu, fosse um verme (lento) que corroeu os sonhos e as ilusões. Não me atires condenações por esta infelicidade, pois até mesmo nas largas estradas, há pés cansados de desilusões.




Jane Bem

quinta-feira, 28 de abril de 2011

As dores doem assim

Doem-me todas as partidas,
As dores findas
Dentro de mim.

Vem-me um choro doloroso,
De manso mando até me possuir,
Como uma fácil presa, onde meu coro não se possa ouvir.

Estas dores nuas
Mas masmorras ou nas ruas,
Na tristeza e na ela alegria
Ela existe em mim.



Jane Bem

terça-feira, 19 de abril de 2011

Bilhete

Se tu me amas,
ama-me baixinho.

Não o grites de cima dos telhados,
deixa em paz os passarinhos.

Deixa em paz a mim!

Se me queres,
enfim,

.....tem de ser bem devagarinho,
.....amada,

.....que a vida é breve,
.....e o amor
.....mais breve ainda.

Mario Quintana

domingo, 17 de abril de 2011

Girassóis

Somos como os girassóis, vacilantes, altivos e amarelos. Sugamos do mundo tudo que deveras sonhamos, e gostamos de sugar, e sugar, e sugar... Nossa ferocidade nos imputa o nome de homem quando nem mesmo nós assimilamos este dom de estar a amar. Grotescos, rudes e endurecidas são nossas raízes, não se sabe se por sofrimento ou por alma colidida. Mensuras tua existência? Somos parte de uma estante, que não finca um só instante até sabermos o que ser. E com o sorriso amarelo, caímos em si que não somos belos como os girassóis.


Jane Bem

Em cada...


Em cada pedaço, uma canção
Em cada fragmento, uma emoção,
Em cada emoção um devaneio,
Em cada devaneio, um cavalheiro,
Em cada cavalheiro um coração.



Jane Bem

sexta-feira, 15 de abril de 2011

A fé de Padre Estácio

Padre Estácio, sempre austero fazia suas andanças matinalmente entre 8 e 10h, e no final da tarde entre as 15 e as 18 horas quando voltava à paróquia da Cidade de Malta. As andanças do padre o faziam bem demasiado, pois nestes passeios ele sentia que seus fieis o ouviam e o respeitavam como o mesmo gostaria que a sua família o fizesse. Esta falta suprimida de Padre Estácio reside no fato de que sua família morava distante, tão distante que a saudade adormecera a maior parte do tempo dentro do peito dele. Enclausurado em sua pequena casa ao lado da igreja, se perguntava sempre se um dia estaria envolvido num manto de pessoas queridas sem que precisasse marcar hora como se fosse um médico. E se as pessoas não o buscariam como alguém iluminado, ou psicólogo divino. Quando Padre Estácio sentia saudades da família, era porque ele sentia saudade de ser Estácio, somente Estácio. Filho, sobrinho, padrinho, sentia falta de pedir carinho, e de sua mãe trazendo bolo de fubá no lanche do fim da tarde. Ele sentia falta de ser espontâneo, e, por vezes errar. Eram tantos os problemas que os seu fieis lhe confidenciava – e esperando no fundo que ele os solucionasse como se fosse Deus. No fundo, as entidades religiosas elegem o líder para guiá-los, e estes líderes com o tempo se acostumam em ditar o certo e o errado parecendo ter sempre razão mesmo quando o coração do fiel quer ouvir o contrário. Os líderes religiosos brincam de ser Deus; e não há como condená-los. Nós os queremos assim, responsáveis por nossas vidas para que não precisemos nos justificar pelos erros, queremos no máximo ouvir que estamos errados, mas punição, não.

Numa noite chuvosa doeu perceber-se na fria solidão, era como se a cada canto da casa houvesse um bicho feroz; Padre Estácio sentia-se na cova dos leões. Logo que esta sensação o arrebatara, se encolhera na cama como uma criança abandonada por alguém, que nem o próprio sabia de quem. Levantou-se da cama como um ato de coragem e sentando, orou. Rezou o pai-nosso, mas pareceu vacilar na fé, pois a mesma não dava resultado. Suas mãos esfriaram e logo foi se espalhando pelo corpo aquele medo. Foi então que surgiu em sua mente a nostalgia da infância, quando sua cama era quente de carinho. Ao lembrar-se de sua mãe que com o candeeiro aceso na hora de dormir, lhe contava histórias bíblicas, e todos os dias ele esperava ansioso por este momento, não se sabe se era para estar mais próximo de sua mãe ou se de Deus- quiçá dos dois. A única certeza que ele sentia era a de que eram momentos de prazer. Esta é a palavra que definia aquele momento; prazer. Em nesta noite chuvosas o Padre lembrara-se que sua mãe lhe falava com muita convicção:

-Não tema. Nunca tema.
-Não vacile diante de Deus, pois ele está ao teu lado, e sabe tudo, absolutamente tudo o que sentes.
- Quando teu coração por todo e qualquer motivo, em toda e qualquer idade te sufocar até doer, não te esqueças de Deus. Teus medos não encontrarão respostas coerentes sempre, isso, se encontrar alguma resposta.
- Ame a Deus por amar.
-Mesmo quando eu não estiver ao lado de sua cama para te dizer isso.

Sua mãe o fitá-lo seriamente. Não deixando espaço para que ele se distraísse com outra coisa além daquelas palavras. Ela deixara claro que um dia definitivamente não estaria mais ali, nem ao lado da cama, nem neste mundo, pois tudo é efêmero. Nossas vidas são um sopro, disse sua mãe. Neste momento ela disse que na desilusão ele fechasse os olhos, para que não olhasse para imagens, e visse em seu coração o seu próprio Deus. E que pedisse proteção ao seu anjo, seja ela, -sua mãe - ou Deus, querubins, pessa nesta singela oração;


"Santo anjo do Senhor
meu zeloso guardador
se a ti me confiou a piedade divina
sempre me rege
me guarde
me governe
me ilumine
Amém."



Sua mãe o contara que aprendera com seu pai quando menina. Disse também que muitas noites antes de dormir repetia a oração e repetia a si mesmo que no dia seguinte, tudo cessarei, tanto as dores quantos as agonias. Nesta noite, quando era menino, orou esta oração e chorou desolado pelo medo de algo ainda desconhecido. Nunca abraçara sua mãe com tanto amor, com tanta ternura; ele sabia que naquele momento seu anjo o protegia, naquele abraço que mais parecia um escudo diante das maledicências da mente e da alma, ou de algo ainda maior. Trinta anos depois daquela noite, que ele se recordava como se tivesse sido ontem, ele chorou. Aos prantos e abraçado com a saudade ele rezou, chorou, dormiu, acordou e no seu intimo, ainda havia um vazio. Antes da missa, ele não quis receber nenhum fiel em sua casa, pois ele não queria celebrar de corpo presente. Ele desejara estar pleno, ou, ao menos tentar estar. Refletindo sobre sua solidão, Estácio se lembrou de uma das mais importantes histórias bíblicas que ouvira na infância, que era a história dos irmãos Caim e Abel. Especificamente de uma passagem que o fez entender o que ocorria em seu coração; passagem esta que dizia;

-E disse o SENHOR a Caim: Onde está Abel, teu irmão?
-E ele disse: Não sei; sou eu guardador do meu irmão?



Ao se atinar a esta história e a esta passagem, Padre Estácio se deu conta de que neste mundo tão novo, tão cheio de novidades, tão rápido, tão apressado, esta forma de mundo o atingira de forma peculiar, ao perecer que falamos o que Caim falou a Deus a cada instante, sem ao menos percebermos ou refletimos. Pior que falar estas palavras, é a prática delas. Fato é que não cuidamos mais do próximo, não queremos cuidar. Nosso mundo é constituído de uma sociedade individual que não vive na realidade como ela se apresenta. Vivemos num mundo onde idealizamos nossas relações, que estão a cada dia mais distante, onde os olhares não são tão comuns como deveria ser, pois, com tantas mudanças, resolvemos mudar isoladamente. Nossa práxis é obsoleta. O padre se deu conta que indo de casa em casa, fazendo o seu trabalho de forma correta não mudaria nada. Nós sozinhos não mudamos nada. Absolutamente nada. Não há razão em nos dedicarmos cinco dias da semana trabalhando e reservar um dia para o voluntariado, isto não é mudança, mas uma auto-redenção de forma bem intencionada. Enquanto quisermos fazer os nossos trabalhos sozinhos, achando estar tranqüilizando a mente, esqueçam. Nossa vida pede, clama coerência. Nossas ações são o que nos edifica. Nossos desejos estão deturpados, pois desejamos ter muito mais sozinho pro não querer descaradamente dividir o mérito.


Neste momento, entendeu o porquê do seu medo. foi não ter alguém para abraçar, como fez com a sua mãe, se deixou dominar na noite passada, pois, estava só. Não havia ninguém para dividir sua causa significado que dar sentido e origem a palavra, campanheirimo. Ele sentia de falar de suas dores ao invés de ouvir a do próximo como se não as tivesse. Não havia troca na sua relação com os demais que ele julgara acalentar.

Na missa, Padre Estácio resolveu contar como fora sua noite anterior e, como tivera chegado à conclusão de sua solidão, e a partir desta manhã sugeriu práticas coletivas como rotineiras, não como fatos isolados. Que aprendêssemos a nos olhar como irmãos, e não como vizinhos colegas, ou santidade superior. E nesta mesma missa, ratificou que mesmo no desalento, o dia seguinte será sempre melhor; pois tudo depende da nossa fé em Deus, no próximo e nas ações.

Jane Bem

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Chegadas e partidas

Soou o sino
E bate consigo a tristeza de um menino,
Que busca na saudade
O afeto do abraço que foi tão forte e lindo.

Os corações se unem
Envolta da memória,
Que repetem consigo;
- Como foi linda a nossa história.

Parte-me esta dor pela partida,
Estes laços eternos,
Vividos pelo milagre da vida.

Vem vindo e ficando manso nesse relicário
A visão de teus passos se aproximando pra ficar ao meu lado;
A luz do teu sorriso grita a alegria
Que se explica com sua vinda.

Soa sino!
Para que todos saibam
Do meu destino, que se emendou
Com a euforia de matar uma saudade
Que só quem ama é quem sabe.



Jane Bem

Encanta Fernando!

O AMOR, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há-de dizer.
Fala: parece que mente...
Cala: parece esquecer...

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
P'ra saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe,
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...

Fernando Pessoa

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Um pouco do que somos

Nossos corpos são arquivos
Selecionado e dividido
Pela emoção.


Nossa mente é um indício
Dos segredos belos e ignóbeis
Por trás de uma narração.


No coração há um motinho
Que não nos cabe dar razão,
Apenas esticar a vida e não morrer de solidão.


Jane Bem

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Amor é amar

A uma moça, cujas feições nem são lindas nem feias, ela é apenas bonita. Como toda mulher, ela tem um jeito por vezes taciturna, e outrora límpida, leve como as nuvens. Ela se assemelha demasiado com as nuvens; alva, de relevância leveza, e pensamentos nômades assim como as nuvens fazem a todo instante; ambas são mutáveis – As nuvens e a jovem.


Nesta conjuntura, percebe-se que a moça trás consigo uma graciosidade singular. Rosto angelical, temperamento turvo e sereno, enfim, ela é uma mulher. Seu jeito sedutor – não sensual- atrai a curiosidade de alguns rapazes, por ela deixar a impressão de que cada ser é único, e todos gostam de se sentirem únicos. A moça de certa forma enfeitiça os homens e a ela mesma. Ela é enfeitiçada por não saber e, por achar justamente o contrário, ela acha que não enfeitiça ninguém. Ela não sabe de sua graciosidade, pois seus pensamentos diferentemente do que se imagina olhando-a são um tanto obscurecidos. Apesar de risonha, vive uma espécie de viúves para com a alegria. Uma das maiores evidencia é a de que Sara engana sem querer enganar, engana por precisar enganar, mas nunca por malicia.


Com um intelecto mediano por assim dizer, não é boa nas matérias didáticas, mas como se diz por aí: “ela dá o sangue para aprender”, principalmente aprender o que lhe dar prazer, com o que não dá prazer, ela no máximo “se safa”. Sara é apaixonada por romances, poesias, - tendo uma queda maior pelas prosas por durarem mais. Ela quer esticar ao máximo o amor. Ao passo que a menina se mergulha nos livros, e os demais a confundem com intelectuais. A princípio, ela se envaidece e até tenta manter o status, mas ao não dar conta confessa que apenas gosta de ler, por puro prazer e lazer, e que, por favor, não façam perguntas com grande complexidade que a resposta correrá sério risco de ser no mínimo descabida. Ela odeia o descabido. Ela é descabida. Em suas prosas lidas já viu o que gostaria de ser e personagens que a retrata fielmente. E, se sente decepcionada em não ser o que gostaria, mas por outro lado se alegre em ver que há mais igual a ela.



Lá pelas tantas da vida, Sara resolve viver um pouco mais aventuradamente no mundo amoroso, mas logo viu que não nasceu para ser de vários. Que é moça que tem como temática ainda o conservadorismo, e não se incomoda por isso, se incomoda por não ter percebido isso antes. Sara é menina de ir ao cinema com o rapaz que gosta. Não gosta de grandes festas. Todo este intento é para que possa se mostrar vagarosamente, a sua alegria, que a mesma julga peculiar e muito discreta por assim dizer. Ao ser ela mesma, encontrou o amor; como se este enredo já não houvesse sido lido antes, mas os jovens são assim, os jovens são dotados de um belo ceticismo burro em não acreditar naquilo que foi dito como justificativa para vivê-lo. Será que são burros mesmo? Neste - como nos anteriores - amor, ela sentiu medo. No começo todos sentimos medo. Acanhada para demonstrar afeto, mesmo que no seu ímpeto surgia uma violenta vontade de acariciar o rosto do amado, de beijar-lhe com mais intensidade, ela sempre recuava a fim de esperar um momento oportuno. Existe momento oportuno? Criamos os momentos, vivemos o que criamos, e criamos o bom e ruim de acordo com o que pensamos. O rapaz era paciente e sagaz ao ver a vergonha na moça enamorada, e mesmo com este comportamento gostava ainda mais dela, pois ele apreciava a timidez. Ele gostava de vê-la desabrochar, assim como fazem as flores na primavera. Sara era para ele uma flor na primavera. E, com o tempo, ela foi despindo-se de suas vergonhas e exprimindo suas vontades, mas ainda sim, Sara continuava a ser uma flor de primavera. Ele amando-a, admirava seus pensamentos, ao passo que mesmo quando se dava conta de que pensava tão diferente dela. Suas palavras se encaixam a cada conteúdo desmembrado. Ela tinha uma secura intrínseca, e ele, uma doçura inerente. Ele entendia das coisas do mundo, e ela, entendia das coisas da alma. Do subjetivo. Ambos possuam uma carência que aos poucos passou a ser preenchida a cada diálogo, a cada gesto diverso a personalidade de cada um. Ambos precisavam aceitar, gostar, apreciar, e o mais importante, respeitar o diferente. E quanto mais conversavam mais se gostavam, e quanto mais se gostavam mais se queriam, e quando mais se queriam mais ouviam, mais falavam e mais se entendiam. E foi numa tarde modorrenta que ela, moça subjetiva e de fato muito inteligente que era, olhou o rapaz e disse: nossas convergências são comungadas no amor, e nossas divergências são vividas e celebradas no amor. Apenas, e tão somente no amor.






Jane Bem

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Não há explicação para o não

No declínio do amor

Farpas ásperas saem do teu intimo,

Como a infinita órbita e seus giros.


Por que desamar?

Será que não poderíamos, por favor, pular a parte do chorar?

Era tão gostoso te olhar,

Desaguávamos-nos um no outro como o rio e mar.




Em que parte sumiu teu amor por mim?

Onde esqueceste de lembrar de mim?

Vais de fato partir?

Então, que partas de imediato, para que leves as raízes deste meu disparato.

E que no amanhecer eu possa, com ou sem forças dizer;

Foste para sempre,

Mas minh’alma não ei de perecer.



Jane Bem

segunda-feira, 4 de abril de 2011

O desejo é de Joana

Tenhas calma Joana

O que causas é só sufoco que uma linda e verdadeira dama pode causar.


Aproveita Joana

Enquanto és formosa, com uma pele limpa como porcelana.


Dança Joana

Para que todos saibam de tens uma doença chamada alegria, e uma falta de decoro quando ama.


Escondes-te Joana

É melhor que ninguém saiba de teus devaneios,

Que és puta de homens vis só pelo desejo da carne e não de quem ama.


Jane Bem

Celebrar é amar

Olha para este laço firmado de um amor por um acaso exato, e, fique feliz em estar ao meu lado. Cumpra seus ludos ao meu lado, para que nada que ames passe assim passado. Por vezes destoe do certo, para que no incerto tenhas certeza que me amas, e que sem mim a vida apenas te engana. Pois, quando cansarmos de nos amar, de nos desejar; Vamos nos sentar na nossa velhice e sobre nossa vida, sorrir, recordar, falar, e falar... De como é e sempre será lindo amar.


Jane Bem