A uma moça, cujas feições nem são lindas nem feias, ela é apenas bonita. Como toda mulher, ela tem um jeito por vezes taciturna, e outrora límpida, leve como as nuvens. Ela se assemelha demasiado com as nuvens; alva, de relevância leveza, e pensamentos nômades assim como as nuvens fazem a todo instante; ambas são mutáveis – As nuvens e a jovem.
Nesta conjuntura, percebe-se que a moça trás consigo uma graciosidade singular. Rosto angelical, temperamento turvo e sereno, enfim, ela é uma mulher. Seu jeito sedutor – não sensual- atrai a curiosidade de alguns rapazes, por ela deixar a impressão de que cada ser é único, e todos gostam de se sentirem únicos. A moça de certa forma enfeitiça os homens e a ela mesma. Ela é enfeitiçada por não saber e, por achar justamente o contrário, ela acha que não enfeitiça ninguém. Ela não sabe de sua graciosidade, pois seus pensamentos diferentemente do que se imagina olhando-a são um tanto obscurecidos. Apesar de risonha, vive uma espécie de viúves para com a alegria. Uma das maiores evidencia é a de que Sara engana sem querer enganar, engana por precisar enganar, mas nunca por malicia.
Com um intelecto mediano por assim dizer, não é boa nas matérias didáticas, mas como se diz por aí: “ela dá o sangue para aprender”, principalmente aprender o que lhe dar prazer, com o que não dá prazer, ela no máximo “se safa”. Sara é apaixonada por romances, poesias, - tendo uma queda maior pelas prosas por durarem mais. Ela quer esticar ao máximo o amor. Ao passo que a menina se mergulha nos livros, e os demais a confundem com intelectuais. A princípio, ela se envaidece e até tenta manter o status, mas ao não dar conta confessa que apenas gosta de ler, por puro prazer e lazer, e que, por favor, não façam perguntas com grande complexidade que a resposta correrá sério risco de ser no mínimo descabida. Ela odeia o descabido. Ela é descabida. Em suas prosas lidas já viu o que gostaria de ser e personagens que a retrata fielmente. E, se sente decepcionada em não ser o que gostaria, mas por outro lado se alegre em ver que há mais igual a ela.
Lá pelas tantas da vida, Sara resolve viver um pouco mais aventuradamente no mundo amoroso, mas logo viu que não nasceu para ser de vários. Que é moça que tem como temática ainda o conservadorismo, e não se incomoda por isso, se incomoda por não ter percebido isso antes. Sara é menina de ir ao cinema com o rapaz que gosta. Não gosta de grandes festas. Todo este intento é para que possa se mostrar vagarosamente, a sua alegria, que a mesma julga peculiar e muito discreta por assim dizer. Ao ser ela mesma, encontrou o amor; como se este enredo já não houvesse sido lido antes, mas os jovens são assim, os jovens são dotados de um belo ceticismo burro em não acreditar naquilo que foi dito como justificativa para vivê-lo. Será que são burros mesmo? Neste - como nos anteriores - amor, ela sentiu medo. No começo todos sentimos medo. Acanhada para demonstrar afeto, mesmo que no seu ímpeto surgia uma violenta vontade de acariciar o rosto do amado, de beijar-lhe com mais intensidade, ela sempre recuava a fim de esperar um momento oportuno. Existe momento oportuno? Criamos os momentos, vivemos o que criamos, e criamos o bom e ruim de acordo com o que pensamos. O rapaz era paciente e sagaz ao ver a vergonha na moça enamorada, e mesmo com este comportamento gostava ainda mais dela, pois ele apreciava a timidez. Ele gostava de vê-la desabrochar, assim como fazem as flores na primavera. Sara era para ele uma flor na primavera. E, com o tempo, ela foi despindo-se de suas vergonhas e exprimindo suas vontades, mas ainda sim, Sara continuava a ser uma flor de primavera. Ele amando-a, admirava seus pensamentos, ao passo que mesmo quando se dava conta de que pensava tão diferente dela. Suas palavras se encaixam a cada conteúdo desmembrado. Ela tinha uma secura intrínseca, e ele, uma doçura inerente. Ele entendia das coisas do mundo, e ela, entendia das coisas da alma. Do subjetivo. Ambos possuam uma carência que aos poucos passou a ser preenchida a cada diálogo, a cada gesto diverso a personalidade de cada um. Ambos precisavam aceitar, gostar, apreciar, e o mais importante, respeitar o diferente. E quanto mais conversavam mais se gostavam, e quanto mais se gostavam mais se queriam, e quando mais se queriam mais ouviam, mais falavam e mais se entendiam. E foi numa tarde modorrenta que ela, moça subjetiva e de fato muito inteligente que era, olhou o rapaz e disse: nossas convergências são comungadas no amor, e nossas divergências são vividas e celebradas no amor. Apenas, e tão somente no amor.
Jane Bem